João Cabral de Melo Neto foi um dos poetas mais rigorosos e inventivos da literatura brasileira.
Pernambucano, uniu a secura do sertão à disciplina quase matemática da construção poética.
Sua obra, marcada pela economia verbal e pelo olhar crítico sobre o mundo, transformou o cotidiano e o sofrimento humano em matéria estética.
Em livros como Morte e Vida Severina e O Cão sem Plumas, Cabral fez da poesia um instrumento de consciência — bela, dura e necessária.
Sua escrita é um convite à lucidez e à responsabilidade da palavra.
Leia um trecho!
“Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.”
