Poucos escritores habitaram tantas vozes quanto Fernando Pessoa.
Em sua escrita, multiplicou-se em heterônimos: Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernardo Soares…
E em cada um deles criou um universo próprio de pensamento, emoção e linguagem.
Poeta da modernidade e do mistério, Pessoa transformou a fragmentação da alma em arte, fazendo da dúvida uma forma de conhecimento.
Sua obra é um convite a mergulhar na complexidade do ser humano e na busca incessante por sentido em meio ao caos da existência.
Ele criou muitos heterônimos, mas três foram principais, além de um semi-heterônimo. São reconhecidos como centrais na sua obra.
Além desses, há dezenas de outras personalidades que ele usou em textos menores, cartas, ensaios e projetos inacabados.
Abaixo segue uma lista organizada:
Os quatro principais
- Alberto Caeiro, o “mestre” dos outros. Representa a simplicidade e a percepção pura das coisas. Escreve em versos livres, próximos da natureza e da sensação direta. Como obras, O Guardador de Rebanhos e O Pastor Amoroso.
- Ricardo Reis, o racional e clássico. Sob influência estoica e horaciana. Exalta o equilíbrio, o domínio das emoções, a efemeridade da vida. Obra: Odes.
- Álvaro de Campos, o modernista exaltado. Engenheiro de formação, simboliza o excesso, a máquina, a angústia e o niilismo da modernidade. Obras: Ode Triunfal, Tabacaria, Aniversário.
- Bernardo Soares, o semi-heterônimo. Autor do Livro do Desassossego. Próximo do próprio Pessoa, introspectivo, melancólico e fragmentário.
Alguns outros heterônimos e pseudônimos foram pouco utilizados, mas revelam a amplitude de Pessoa:
- Alexander Search (escrevia em inglês, ainda jovem)
- Charles Robert Anon
- Chevalier de Pas
- António Mora (filósofo e discípulo de Caeiro)
- Barão de Teive (A Educação do Estóico)
- Raphael Baldaya (ocultista e astrólogo)
- Thomas Crosse (crítico literário fictício)
- Jean Seul de Méluret
- David Merrick
- I. I. Crosse
- Maria José (poetisa doente e reclusa)
- Vicente Guedes (primeira fase do Livro do Desassossego)
- Fausto (personagem filosófico criado em prosa e verso)
- Pantaleão, João Craveirinha, Claude Pasteur, entre outros ocasionais.
Como degustação, um poema do Mestre Caeiro:
“ IX
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.”
